USP é a universidade que mais publica artigos científicos sobre a Amazônia

(Foto: Pexels)
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Um estudo recente realizado pelo vice-presidente sênior de Redes de Pesquisa da Elsevier, Carlos Henrique de Brito Cruz, mostra que o Brasil é o país que mais realiza pesquisas sobre a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia.

O levantamento analisou uma base de dados com milhões de artigos científicos publicados no mundo inteiro sobre o bioma desde 1975. O Brasil é o país com o maior número de publicações, sendo a principal referência em investigações científicas amazônicas. Em 2022, por exemplo, foram 2.617 artigos publicados por pesquisadores brasileiros, mais que o dobro da quantidade de artigos produzidos pelos Estados Unidos, segundo país no ranking, que publicou 1.231.

Mas não foi sempre assim. Até 2005, os Estados Unidos eram responsáveis pela maior parte das publicações, o Brasil só assumiu a dianteira a partir de 2006. Para Brito Cruz, alguns fatores podem ter contribuído para acelerar o aumento de pesquisas brasileiras realizadas na Amazônia, como a redemocratização do País e a promulgação da Constituição Federal de 1988, que deu relevância às questões ambientais e trouxe o tema para o debate político.

Outro acontecimento importante foi a ECO-92, primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, e que evidenciou a responsabilidade dos países na conservação ambiental. No plano internacional, houve o aumento da relevância do tema “mudança climática” com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em 1988.

“O plano real, que criou no Brasil uma moeda estável, permitiu que as instituições de financiamento à pesquisa e as instituições de ensino superior funcionassem de forma mais planejada e estável. Além disso, foi sendo construída no Brasil uma base de pesquisadores capazes, dedicados ao tema. Por exemplo, já em 1990, o professor Carlos Nobre publicava, com colegas, pesquisas sobre modelos climáticos analisando o desflorestamento na Amazônia”, explica Brito Cruz.

Depois do Brasil e dos Estados Unidos, os países que mais realizam pesquisas sobre a Amazônia são o Reino Unido, a China e a Alemanha, sendo que o país asiático apresenta uma produção crescente e poderá superar o Reino Unido nos próximos anos.

Entre as nações sul-americanas, o Peru e a Colômbia aparecem entre os dez países com mais publicações.

Pesquisa nacional

O estudo da Elsevier também identificou que as universidades e os centros de pesquisa brasileiros foram os principais responsáveis pelas publicações feitas entre 2012 e 2021. Das dez instituições mais atuantes no tema, nove estão no Brasil e a única estrangeira é o Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS), da França.

A USP é a instituição que lidera a lista, totalizando quase 4 mil artigos publicados sobre a Amazônia no período. Em seguida, aparecem a Universidade Federal do Pará (UFPA, 2º lugar), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa, 3º) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam, 4º).

“Os dados indicam a importância que a USP confere à região amazônica, especialmente considerando a influência que ela possui sobre o clima planetário, mas também como uma das regiões de maior biodiversidade do mundo. A criação do Centro de Estudos da Amazônia Sustentável, ligado à Reitoria, visa acelerar ainda mais nossa atuação, integrando os esforços de diferentes unidades e áreas de conhecimento. Já fazemos muito, mas queremos fazer ainda muito mais”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP, Paulo Alberto Nussenzveig.

Para Brito Cruz, “é importante notar que, ano a ano, as instituições localizadas na região amazônica estão ganhando um papel cada vez mais relevante, como se observa com a UFPA, o Inpa e a Ufam. Como estratégia, é fundamental que o Brasil mobilize universidades e instituições de todo o país para ajudar a compreender a imensa complexidade da Amazônia”.

Além da USP, outras duas universidades paulistas figuram na lista: a Universidade Estadual Paulista (Unesp, 5º lugar) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, 10º lugar). “A autonomia financeira das universidades estaduais paulistas e o aumento do orçamento da Fapesp contribuíram para que a comunidade científica do Estado de São Paulo pudesse dedicar um esforço efetivo ao tema”, completa o pesquisador.

O aumento de pesquisas brasileiras sobre a floresta é reflexo da atuação das agências de fomento e do investimento de recursos na ciência. Entre os dez principais financiadores de pesquisas na Amazônia, seis são órgãos nacionais, com destaque para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, na 1ª posição) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, na 2ª posição), ligados ao Governo Federal, e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados de São Paulo (Fapesp, 4ª posição) e do Amazonas (Fapeam, 5ª posição).

Centro de Estudos da Amazônia Sustentável

O Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas) é um dos novos centros temáticos de pesquisas lançados neste ano pela USP, para, em parceria com instituições amazônicas, atuar de maneira multidisciplinar em pesquisas estratégicas na Amazônia.

Sob a coordenação do professor do Instituto de Física (IF), Paulo Artaxo, e a vice-coordenação da Faculdade de Saúde Pública (FSP), Gabriela di Giulio, o Ceas está construindo uma agenda comum de pesquisas com universidades amazônicas e com o INPA e MPEG. Tem como principal propósito a construção coletiva, com ampla participação das instituições amazônicas, de uma agenda que contribui para a produção, integração e disseminação da ciência, por meio de atividades acadêmicas e científicas inter e transdisciplinares relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, voltados à contribuir para uma construção de uma agenda que possa levar ao desenvolvimento sustentável da região amazônica.

Os outros quatro centros temáticos são o Centro de Agricultura Tropical Sustentável (Stac), o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), o Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão (C2PO) e o Centro Observatório das Instituições Brasileiras.

*Com informações do site Jornal do USP, por Erika Yamamoto

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