Negócios apostam no conceito de floresta em pé na Amazônia e na Mata Atlântica

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Foto: Valter Campanato/Arquivo/Agência Brasil

Em um cenário de aumento do desmatamento na Amazônia e agravamento da crise climática, iniciativas que se apoiam no conceito de floresta em pé têm atraído uma nova geração de empreendedores e investidores.

Fundada em 2020 no município de Tefé, no Amazonas, a Apoena é uma empresa de impacto socioambiental que produz farinhade mandioca, frutas e óleos vegetais, orientada por boas práticas de extrativismo. Além disso, trabalha com 50 famílias locais, que fornecem insumos e recebem treinamento sobre uso responsável do solo.

Com um investimento próprio de R$ 600 mil, o negócio conta hoje com 22 funcionários e fatura cerca de R$ 480 mil por ano, afirma Onesimo Jacinto Gomes, 49, um dos fundadores da Apoena. No ano passado, a empresa foi selecionada pelo programa BNDES Garagem – Negócios de Impacto, que ofereceu mentoria e intermediou o contato com possíveis parceiros e clientes. A farinha de mandioca Seu Joca é atualmente o carro-chefe da empresa.

Segundo Ruth Espinola Soriano de Mello, coordenadora do curso de negócios de impacto socioambiental do IAG (Escola de Negócios da PUC-Rio), hoje ganham força as empresas preocupadas não apenas com a preservação dos biomas, mas também com a sua recuperação. “A Amazônia é, antes de tudo, potência, e a gente ainda não sabe quanto a biodiversidade pode nos ajudar a enfrentar a questão do clima.”

Monitoramento via satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) aponta que o desmatamento chegou a 13.235 km² na Amazônia Legal entre 1º agosto de 2020 e 31 de julho de 2021, a maior área desde 2006.

O mercado de impacto tem atraído também investidores, como ocorreu com a Floresta S/A. Criada no ano passado, a startup captou R$ 2,4 milhões e seu projeto-piloto foi recuperar uma área desmatada em Iracema, Roraima, por meio de um sistema de agrofloresta, que combina espécies madeireiras e frutas como banana, cacau e açaí. Nesse modelo, a vegetação nativa é permanente e as demais culturas, sazonais.

Em outra frente, a empresa foi selecionada em programa da Amaz, aceleradora do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), para estimular a produção agroflorestal e regenerativa de dez pequenos produtores. Recebeu R$ 200 mil e busca agora novos investidores.

“Queremos incentivar os produtores migrarem de uma monocultura, ou de uma cultura de gado, para uma agrofloresta, promovendo a regeneração da área. Para o patrocinador, será uma oportunidade de melhorar os seus indicadores ESG”, diz o CEO da Floresta S/A, Thiago Campos, 32.

O Idesam, por sua vez, busca criar condições para desenvolver negócios de impacto positivo na Amazônia, priorizando a biodiversidade e contribuindo com comunidades rurais e ribeirinhas. De acordo com Carlos Koury, diretor de bioeconomia do instituto, um dos maiores desafios da região é criar conexões entre todos os elos da cadeia.

“A tese de impacto da Amaz, nossa aceleradora, é que precisamos encurtar caminhos para que bons projetos se conectem. Existem oportunidades para quem quer desenvolver relações justas com os atores da floresta, pagar preço adequado, mas eles precisam de apoio para se conectar e crescer”, afirma Koury.

Negócios voltados à agenda ambiental se desenvolvem também no Sudeste. Localizada no município de Resende (RJ), a Juçaí nasceu em 2009 com o propósito de conservação da Mata Atlântica. Para isso, produz sorbet de açaí a partir do fruto da palmeira-juçara, espécie nativa e ameaçada de extinção.

“A palmeira-juçara está em risco tanto pela redução do bioma em si, hoje preservado em apenas 12% do que era originalmente, como também pela extração do palmito, que mata a árvore. Com o ‘açaí’ é diferente, você consegue extrair apenas o fruto, mantendo a árvore em pé”, diz Roberto Haag, 50, diretor-geral da Juçaí. “E a gente tem uma norma na empresa de que a extração deve manter ao menos um terço dos frutos no pé, para dar continuidade ao ecossistema e alimentar a fauna local.”

Adquirido em 2019 pelo grupo Bio Philia, o negócio cresceu. Tem hoje uma linha de 13 produtos, cerca de 40 funcionários e espera concluir ainda neste ano a construção de uma nova fábrica, que vai concentrar toda a produção em Penedo (RJ). A empresa também é parceira de cooperativas de pequenos produtores. “Hoje a gente impacta mais ou menos 900 famílias nessa atividade de colheita e processamento do fruto da juçara.”

A Juçaí não revela faturamento, mas Haag afirma que a meta é crescer 50 vezes nos próximos cinco anos. “É um desafio. Nosso produto é orgânico, sem nenhum tipo de agrotóxico, e a gente faz questão que continue sendo.”

Para Marcus Nakagawa, coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, negócios de impacto voltados à conservação e reflorestamento têm potencial, mas precisam de investimento em pesquisa para ganhar escala de mercado. Segundo ele, a pauta verde hoje em expansão envolve energia e biocombustíveis.

“Os negócios de impacto ambiental estão fortemente ligados às energias renováveis, principalmente eólica e solar, com atores trabalhando inclusive com créditos de carbono. Outro segmento que vem crescendo bastante é o de gestão de resíduos.”

Fonte: Política Livre

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