Quando ouvimos falar em exploração de madeira na Amazônia é comum ser algo relacionado a ilegalidade ou aos impactos ambientais. Seja da exploração de madeiras proibidas, passando pela extração em terras indígenas, até a exploração ambiental desenfreada, aprendemos desde pequenos que derrubar árvores não é algo bom. No entanto, a exploração de madeira na Amazônia é uma atividade econômica importante para a região e muitos de nós ainda utilizamos bastante madeira no dia a dia.
O ponto negativo é que, a demanda por madeira resulta em uma pressão crescente sobre a floresta tropical, levando ao desmatamento, erosão do solo e perda de biodiversidade. Além disso, a exploração ilegal de madeira é um problema sério na região, onde muitas vezes os madeireiros não seguem as regulamentações ambientais. Por esses motivos, é importante implementar medidas eficazes de controle e monitoramento da exploração de madeira na Amazônia.
Para fazer o controle da exploração de madeira ilegal, órgãos ambientais utilizam ferramentas como o coeficiente de rendimento volumétrico (CRV), que é a relação entre o volume da tora de madeira processada e o volume obtido de madeira serrada. Atualmente, esse rendimento é de apenas 35% da madeira explorada. Um estudo de caso feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), publicado na revista científica “Acta Amazonica” nesta segunda-feira (6), propõe que cada indústria de base florestal tenha o seu próprio CRV com um intervalo de confiança, e que haja mais investimento em tecnologia para aumentar o rendimento da madeira explorada.
As análises foram feitas em Manaus (AM), entre 2015 e 2016, e são parte da dissertação de mestrado de Kauanna de Andrade, aluna do Instituto. Durante a pesquisa de campo, Andrade ouviu relatos de que havia muita dificuldade dos órgãos ambientais em conferir o CRV. Em muitas empresas, o coeficiente não é atingido, o que gera falhas dentro do sistema DOF (Documento de Origem Florestal), que controla a origem da madeira.
Para medir esse coeficiente de fato, as toras de 19 espécies de madeira foram pintadas e o CRV estimado foi de apenas 24,6%, em média. Quando os 35% determinados pelo DOF não são atingidos, a empresa recebe créditos virtuais. Quando esses créditos se acumulam, os empresários enfrentam dificuldades para adquirir novas licenças para exploração. Em alguns casos, para atingir os 35%, é utilizada madeira ilegal sem rastreabilidade. “Quando a indústria faz seu próprio estudo, você evita acúmulo de créditos virtuais, que são alvos muito fáceis de cibercriminosos e que podem ser usados por quem faz exploração ilegal”, pontua Andrade.
Em junho de 2022, o Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado Ambiental (Gaeco) deflagrou duas operações que investigavam organizações criminosas que atuavam fraudando créditos florestais de Mato Grosso. Esta é apenas um exemplo de operação. Em uma rápida busca no Google, é possível encontrar notícias relacionadas desde 2013. Ou seja, podemos dizer que o sistema está defasado há uma década, mas pouca coisa mudou.
Por isso, os cientistas sugerem no artigo que cada indústria tenha seu próprio CRV. “Tem que ter investimento em tecnologia da madeira para aproveitar mais o material que está sendo explorado”, afirma Andrade. “O DOF é importante, mas pode ser melhorado”, avalia. Cada espécie se comporta de uma maneira, segundo a pesquisadora, por isso, o rendimento de cada uma é diferente. O maquinário utilizado no desdobro, o tipo de produto final, a qualidade das toras, o tempo e locais de estocagem da madeira também podem influenciar o rendimento dentro da indústria.
Ao derrubar o CRV padrão e apoiar o investimento em ciência e tecnologia para melhorar o rendimento das espécies, os órgãos ambientais estimulam empresas a produzir de forma mais sustentável. “Sem manejo florestal sustentável, adeus biodiversidade”, observa Adriano José Lima, que também é autor do artigo.
Madeira e outros commodities: Ação humana pode afetar Amazônia milhares de vezes mais rápido
A exploração da madeira na região tem suas vantagens econômicas, mas é importante que a sociedade reflita sobre a forma como extrai matérias-primas do meio ambiente. A necessidade de recursos naturais para atender à demanda humana é crescente, mas ao mesmo tempo, é necessário preservar e proteger o equilíbrio do ecossistema para as gerações futuras. Portanto, é necessário encontrar um equilíbrio entre a exploração econômica e a preservação ambiental, de modo a garantir um desenvolvimento sustentável.
As mudanças causadas pela ação humana na Amazônia são capazes de afetar todo o continente em questão de séculos ou décadas. São, portanto, centenas a milhares de vezes mais rápidas quando comparadas a processos climáticos e geológicos naturais, que se estendem por milhões a dezenas de milhões de anos. Os principais fatores de degradação do bioma relacionados à atividade humana são desmatamento, incêndios florestais, erosão do solo, represamento de rios e desertificação devido à mudança climática global. É o que afirmam outros pesquisadores do INPA e da Universidade de Louisiana, nos Estados Unidos, em artigo publicado na revista “Science”.
A transição da paisagem florestal para a paisagem agrícola por meio do desmatamento em larga escala ocorre de forma acelerada na Amazônia, explicam os autores. Isto é preocupante porque o bioma tem papel fundamental no ciclo hidrológico planetário, e as interferências humanas provocam a degradação do regime climático global. Essas transformações geram consequências múltiplas para o bem-estar humano, como insegurança no acesso à água e alimentos, o que pode provocar migrações em massa e instabilidade política.
O pesquisador Pedro Val, um dos autores do estudo, explica que os dados foram compilados a partir do primeiro Relatório de Avaliação da Amazônia, documento lançado em 2021 pela rede de cientistas do Painel Científico da Amazônia. O artigo complementa esse conhecimento com dados de estudos publicados mais recentemente sobre impactos ambientais na América do Sul e no mundo.
“Dentre as principais medidas destacadas, estão a parada completa de desmatamento através de políticas e leis de conservação existentes. As políticas públicas devem desincentivar o desenvolvimento de novas hidroelétricas e de novas exportações de commodities que dependam do desmatamento da Amazônia, como as derivadas da agricultura e mineração. Na esfera global destaca-se a necessidade de migrar para fontes de energia limpa e eliminar o uso de fontes como derivados do petróleo. É necessário migrar para energia eólica e solar”, explica Val.
*Com informações do site Inova Social