Reitor da UEA fala sobre investimentos no Centro de Biotecnologia da Amazônia

(Foto: Gilson Mello)
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Em entrevista para A CRÍTICA, o reitor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), André Zogahib, falou sobre as potencialidades de investimento em biotecnologia após a instituição sair vencedora de um edital que buscava definir uma gestão para o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), projeto da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) sediado na capital do Amazonase que busca autonomia jurídica e financeira desde a sua criação, em 2002.

O reitor também comentou a possibilidade de anulação do edital do CBA pela segunda vez. E falou sobre a  ampliação da UEA em municípios do interior do Amazonas e dependência financeira da instituição com a Zona Franca de Manaus. Confira abaixo.

Na semana passada, tivemos a proclamação do pool que inclui a UEA para a administração do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), hoje ligado à Suframa. O que essa vitória representa para a universidade?

Falta apenas um passo agora, que é a publicação do decreto no Diário Oficial, mas somos entusiastas do CBA. Acredito que ele tem um potencial enorme e estar à frente, junto com outras instituições, porque é um acordo de atuação, conversamos muito com a fundação da universidade, a FUEA e com o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo].

Estamos muito entusiasmados e acreditamos que vamos conseguir transformar esse potencial do CBA em questões efetivas que deem um retorno para a sociedade, tanto com relação à efetivação de políticas públicas como no desenvolvimento da pesquisa nessa área da biotecnologia, gerando emprego, renda.

A universidade tem uma capacidade muito grande, por meio do CBA, de desenvolver uma série de potencialidades na nossa região, para além do que já fazemos aqui na instituição.

Então, nesse processo, usando a infraestrutura do CBA, dos seus pesquisadores, dos nossos pesquisadores da UEA e da nossa estrutura, temos uma perspectiva muito boa de atuar economicamente no Amazonas.

Qual o plano para o CBA? Os alunos serão levados para fazer pesquisa lá?

Ainda estamos desenvolvendo a metodologia de atuação de cada parceiro, até onde vai o limite de atuação de cada um, mas a ideia inicial é essa, que possamos levar os nossos alunos, mas principalmente os nossos pesquisadores.

Temos discutido muito isso, que os nossos pesquisadores têm uma boa expertise. Juntando isso com a infraestrutura do CBA, temos uma possibilidade de crescimento muito grande para a nossa região.

Como foi a formação do pool para concorrer à administração do CBA?

Quando vimos o edital aberto, por conta dessas potencialidades em aberto, a gente procurou um instituto que tivesse um histórico gigantesco, e o IPT-SP veio somar com a gente por toda a capacidade técnica que tem, hoje, sobretudo, de pesquisadores renomados no país, com o histórico de boa referência em atuação na área. Cada uma das instituições que participa desse processo foi procurada. A UEA fez essa coordenação de buscar parceiros. Foi assim também com a fundação da UEA [FUEA] e todos têm esse viés de cooperação, porque todos queremos a mesma coisa. Nós queremos o desenvolvimento econômico do Amazonas, mas não por qualquer custo. Queremos que esteja alinhado a um desenvolvimento social, sobretudo, com a preservação da floresta.

A preservação da floresta a partir de iniciativas ligadas à biotecnologia é uma questão mundial, atualmente. O senhor avalia que o Amazonas está atrasado no tema?

Acredito que o Amazonas avançou muito nesse processo, principalmente nos últimos anos. Se você for fazer um histórico, consegue observar que o Governo do Amazonas tem criado políticas de enfrentamento a essas questões, inclusive, aqui na universidade fazemos a nossa parte, desenvolvendo ciência, pesquisa, visando a preservação da Amazônia. Por exemplo, acabamos de ter um projeto aprovado para Itacoatiara, para o desenvolvimento de um robô que faz o monitoramento da floresta. Ainda vai ser desenvolvido. Esse robô vai captar o ar, a umidade, as variações dos elementos químicos, a vibração do solo, por exemplo, para identificar se um trator estiver passando. Já temos um projeto que faz o monitoramento da água em Parintins. Então, temos uma série de projetos já desenvolvidos nos cursos de meteorologia, biologia, engenharia. Ainda temos muito o que avançar, é um enfrentamento mesmo. As pessoas que querem cometer crimes ambientais acabam buscando soluções para isso também e a gente fica nesse ciclo, tentando proteger a floresta.

O senhor citou na primeira resposta que ainda falta o decreto presidencial para finalizar esse processo do CBA. A previsão, segundo o edital, é 23 de janeiro, ou seja, já no novo governo. Porém, o ex-ministro Sérgio Rezende, que integrou o governo de transição do presidente eleito, Lula, disse que uma das propostas é que as publicações do edital sejam anuladas e o CBA seja administrado pelo Estado, no Ministério da Ciência e Tecnologia. E se isso acontecer?

A gente participou do processo com a expectativa de tentar contribuir, evidentemente, mas essa decisão é estratégica do governo federal. Claro, estamos aqui para seguir o que tiver que seguir. Se, por acaso, isso for revogado, a UEA vai continuar atuando como sempre atuou e tentando contribuir com o desenvolvimento da floresta, seja por meio dessa cooperação, seja por meio de qualquer outra relação que a universidade pode fazer. Eu acredito que temos um potencial enorme também na UEA, para o desenvolvimento de políticas públicas, e o governo do Amazonas sendo parceiro nesse processo todo. Se o governo federal quiser, acredito que vai ser também um parceiro da universidade, por tudo o que está sendo discutido, acreditamos que isso vai acontecer [a administração do CBA para a UEA e parceiros], mas se não acontecer, continuaremos aqui para contribuir.

Caso o processo seja anulado, a UEA tem instrumentos jurídicos para tentar reverter essa decisão? Há interesse em ir por esse caminho?

A ideia, na verdade, é sempre dialogar. A universidade tem o interesse no diálogo. Vamos sentar com o governo federal e tentar entender. Se eles entenderem que passar a administração do CBA para o pool não é a estratégia mais adequada, a gente vai buscar desenvolver as nossas ações na própria universidade. Não vejo razão para judicializarmos uma situação dessa, porque temos de entender qual a estratégia do governo que vai entrar agora.

A UEA é a maior universidade multicampi do Brasil, com unidades espalhadas por diversos municípios do Amazonas. Como está a atenção para essa área? Há previsão de ampliação de vagas no interior e/ou abertura de novas unidades em outros municípios?

Hoje temos que consolidar o que já temos. Foram abertos muitos cursos em muitas unidades da UEA sem ter a infraestrutura adequada. Então, o que precisamos, hoje, é dar esse recurso para termos ensino, pesquisa e extensão, todas de qualidade. Os campus que estão em construção no interior, vão finalizar e vamos avançar, dentro do nosso orçamento, nas nossas possibilidades, para não oferecermos qualquer coisa, porque, muito mais que chegar, é chegar com qualidade.

Os cursos para o interior vão ser pensados, estrategicamente, conforme a vocação de cada município. Vão visar primeiro a educação básica, porque temos que formar professores com qualidade para melhorarmos os índices de educação e desenvolvimento social do Amazonas. Temos que investir em cursos que tenham um toque direto na questão econômica, na área de engenharia, em gestão, e também precisamos investir em cursos de saúde. Então, não esquecendo das artes, do turismo, porque acreditamos que o turismo tem um potencial muito grande a ser desenvolvido no nosso Estado. Agora, tudo tem que ser bem pensado, com as demandas, com a população dos municípios.

O senhor iniciou a gestão em abril. O que destaca de atuação da reitoria de lá para cá, ao fim deste ano?

Estamos trabalhando em um processo de reestruturação da universidade. Isso passa, por exemplo, pela reabertura do quinto andar da policlínica, que tava fechado há mais de três anos, pela reabertura do quinto andar da escola de artes e turismo, com cursos de mestrado, inclusive, que estava fechado há mais de três anos. Ainda temos problemas para resolver, são muitos, não vamos conseguir em quatro anos, mas queremos padronizar a estrutura, respeitando as especificidades de cada curso e cada demanda. Queremos padronizar para conseguirmos dar equidade de tratamento a todos os cursos, alunos e professores. Por exemplo, não estamos mais criando nada ad referendum, órgãos suplementares que vêm de cima para baixo. Estamos devolvendo os processos para que sejam amplamente discutidos com a coletividade de cada unidade e, a partir daí, construirmos uma universidade acessível e democrática.

E para o próximo ano? Qual os planos para a universidade?

É dar continuidade a essa perspectiva com mais investimento, manter esse bom relacionamento com o Governo do Amazonas, aplicar os recursos e buscar parcerias. Por exemplo, conseguimos agora com a ajuda do secretário Apolo, de Cultura, que o Teatro Américo Alvarez viesse para a universidade. Temos buscado essa parceria para criar um networking de políticas públicas e que a UEA seja protagonista nesse processo.

Queremos dar continuidade a isso, buscando uma melhor infraestrutura para a universidade. Estamos criando um grande programa de qualidade de vida para os servidores. Buscando as questões legais no que diz respeito à remuneração dos servidores, dando melhor condições também para os cargos comissionados, enfim. Estamos trabalhando em uma série de situações para podermos oferecer o melhor para a universidade e para a sociedade.

Em fevereiro deste ano, após o governo federal reduzir o IPI do país por meio de decretos, a Zona Franca de Manaus ficou ameaçada e, por consequência, a UEA, financiada integralmente pelo Polo Industrial. Como vencer essa dependência que a universidade tem com o modelo econômico?

Na verdade, a UEA, a Polícia Militar, a Saúde, a Educação, todas as secretarias dependem do Polo Industrial. Os empregos diretos e indiretos que temos influenciam diretamente na economia e na arrecadação tributária. Hoje, 87% da nossa economia está ligada, de alguma forma, à arrecadação ou ao trabalho desenvolvido no Polo. Não é só a UEA que é prejudicada. A UEA tem um prejuízo direto, porque todo o recurso vem de lá, com exceção dos projetos de P&D, as transferências que ocorrem por meio de interferência parlamentar, no orçamento impositivo, ou dos próprios projetos na Câmara, no Senado e na ALE-AM. Mas, temos que entender que o prejuízo é do Amazonas, então, o Estado unido na própria defesa vai muito mais além. Inclusive, quando saíram os decretos, fiz uma entrevista conclamando aos nossos políticos que se unam nesse processo de defesa da Zona Franca.

Acredito que a gente tenha nesse ano uma perspectiva muito interessante. Temos outros estados que não conseguem compreender que não estamos tirando empregos de lá, mas sim desenvolvendo empregos localmente. Além disso, fomentamos desenvolvimento de empregos em outras regiões, seja na área logística ou em outros aspectos. Acredito que o Estado está se unindo. Todo mundo já começou a entender que esse problema é de todos nós, de todos os amazonenses.

Dentro desse contexto, o que a UEA pode fazer para fomentar a implementação de complementos ou alternativas econômicas à Zona Franca?

Podemos desenvolver pesquisa. Penso que agora não tem como tirarmos o modelo Zona Franca e começarmos outro. Por isso, preliminarmente são modelos complementares à Zona Franca para que depois tenhamos modelos substitutos, mas tudo isso passa por um processo de desenvolvimento de novos produtos, serviços que possamos oferecer para a sociedade, inclusive, em caráter global. Tenho que desenvolver produtos e serviços e isso só acontece se eu tiver um ensino de qualidade tanto na base como na universidade. O ensino vai gerar pesquisas que, por sua vez, vão gerar produtos, patentes, serviços. A parceria com esse pool de organizações para gestão do CBA, bem como todas as ações que a universidade desenvolve hoje, são voltadas para o desenvolvimento de pesquisa.

O senhor está falando sobre a importância de fomentar a ciência. Desde o fim do governo da ex-presidente Dilma, passando pelo ex-presidente Michel Temer e agora Bolsonaro, o orçamento para ciência caiu muito, no Brasil. A UEA é ligada ao governo estadual, então não é diretamente afetada, mas houve reflexos dessa redução de incentivo para a ciência?

Isso envolve a UEA diretamente em um outro aspecto. Temos o desenvolvimento de diversas pesquisas que são, pela própria finalidade constitutiva do CNPq [órgão ligado ao governo federal], fomentadas por eles. Então, a gente precisa compreender que investir em ciência é investir em desenvolvimento econômico e social. Esses cortes de recursos ao longo desses anos influenciam também na UEA, porque temos professores e pesquisadores bolsistas do CNPq. Existem projetos no Finep [agência de inovação do governo federal] que foram atrofiando em função desse desinvestimento. Acredito que agora possamos melhorar essas questões, é algo que, se o país começar a entender que temos que investir em educação, a educação é a chave para que a gente desenvolva o país, as coisas vão melhorar.

*Com informações do site A Crítica

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