Quem apoia o empreendedorismo de impacto na Amazônia? Pesquisa mapeia ações positivas

(Foto: Pexels)
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Você já deve ter percebido que, nos últimos anos, houve um crescente interesse pelo tema ‘Amazônia’. Felizmente, a tendência de maior conscientização das instituições, das empresas e da população sobre temas relacionados à sustentabilidade em geral trouxe luz para a importância e as possibilidades para se manter a maior floresta tropical do mundo em pé.

A diversidade e grande extensão do território Amazônico exigem soluções inovadoras e novos modelos de desenvolvimento, e já são muitos os(as) empreendedores(as) da região atuando para solucionar os seus desafios socioeconômicos e ambientais. No entanto, diferente do Sudeste, onde estão concentradas a maioria das aceleradoras, incubadoras, fundos de investimento e eventos de empreendedorismo no país, o ecossistema dos negócios que geram impacto socioambiental positivo na Amazônia ainda carece de suporte e desenvolvimento.

Nesse sentido, também considerando o crescente número de investidores interessados no desenvolvimento da Amazônia, é urgente direcionar esforços e capital para fortalecer o ecossistema de empreendedorismo já presente e atuante na região, bem como garantir que os(as) empreendedores(as) e as organizações locais acessem e encontrem o suporte desejado.

Foi com esse objetivo que o Quintessa se juntou à Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) para realizar o primeiro mapeamento das iniciativas que têm fortalecido o ecossistema de inovação e impacto socioambiental positivo nos estados da Amazônia Legal – implementado por fundações, empresas, organizações da sociedade civil, programas, institutos de pesquisa, universidades, entre outros.

O mapeamento ‘Caminhos para a Amazônia: Iniciativas de apoio a organizações de impacto’, identificou 62 instituições que, por meio de 66 diferentes iniciativas, promovem oportunidades para negócios de impacto na Amazônia, contemplando editais, chamadas e aportes de capital público, privado e filantrópico.

Mesmo com apenas 5% dos negócios de impacto com sede na região Norte do Brasil (Pipe Social, 2021), o número de iniciativas de apoio é bastante significativo e engloba, também, outros tipos de negócio, como organizações de base comunitária, cooperativas, redes e OSCs.

Quem são as organizações e o que buscam?

Mais da metade das organizações têm sede na Amazônia: 35% no Pará e 23% no Amazonas, e o estado de São Paulo ainda possui a maioria: 47% das sedes. Em geral, as organizações indicaram que são financiadas majoritariamente por doações, sendo as internacionais como fonte mais representativa.

Um ponto de destaque no mapeamento foi o fato de que 75% das organizações possuem mulheres na liderança, e a maioria delas também aplica a lente de gênero para seleção de negócios em seus portfólios.

A maioria das iniciativas foca no desenvolvimento dos negócios (97%), o que mostra a importância dada para o desenvolvimento do ecossistema de impacto da Amazônia. Aproximadamente um terço do total já trabalha com desenvolvimento e investimento, o que não é muito diferente do cenário de negócios de impacto a nível nacional.

Os principais tipos de suporte que as iniciativas oferecem são a capacitação e o treinamento, conexão com investidores e mensuração do impacto. É muito positivo ver a alta representatividade no suporte para mensuração, uma vez que o amadurecimento e expansão da agenda de impacto no Brasil passa também pela transparência e qualidade dos dados. Os tipos de suporte menos oferecidos são o espaço e incentivo à pesquisa, o que leva ao questionamento se por uma questão de falta de demanda (ou outras barreiras); ou se existe oportunidade de crescimento para esses tipos de iniciativas.

Outro ponto relevante é o fato de que 45% das iniciativas que oferecem financiamento aos negócios não possuem expectativa de retorno financeiro e o oferecem por meio de doação, o que denota a forte presença e atuação de um capital paciente.

Por mais que o mercado venha se estruturando para diversificar a oferta de recursos financeiros para o empreendedor de impacto, percebe-se que a doação segue sendo a principal forma de acessar recursos na Amazônia. Por outro lado, ao analisar o ecossistema em todo o Brasil, a doação era 2,5 vezes menos representativa do que o suporte financeiro por meio de investimento ou empréstimo (dados do GUIA 2.5, 2019). A doação é um importante suporte para o desenvolvimento do setor, mas não deve ser confundida com modelo de negócio, ainda mais em um contexto onde a própria auto identificação enquanto um negócio de impacto – rentável – ainda é pouco assimilada.

Foco e temáticas mais apoiadas

Os principais públicos-foco das iniciativas são a população extrativista e indígena, seguidos do produtor rural, da população tradicional ribeirinha e das mulheres; e os setores-alvo que mais aparecem são o extrativismo, agricultura e manejo.

Em relação às cadeias de valor, açaí e cacau são as que recebem mais suporte: metade das iniciativas possuem foco em alguma cadeia específica, e os dois cultivos são os mais representativos. Quando analisados os temas focados pelas iniciativas, são destaques a bioeconomia e os sistemas regenerativos.

Desafios e oportunidades encontrados para o ecossistema na região

Com o aumento do interesse pela Amazônia, é essencial reconhecer a necessidade de sistematizar e mapear o que já está sendo feito, para otimizar os esforços direcionados para a região e apoiar e dar autonomia para o(a) empreendedor(a) local entender as iniciativas de suporte que mais fazem sentido para si e com as quais mais se identifica. Também se reconhece a necessidade de aprofundar os desafios das populações locais e em soluções viáveis, aplicadas à sua realidade,, a partir de muito diálogo e escuta ativa. Não menos importante, é necessário construir parcerias longevas, de modo a evitar sobreposições, aumentar a articulação entre os atores e a construção de soluções sinérgicas e complementares.

Entendemos também a necessidade de adaptar a linguagem utilizada no setor de impacto, principalmente a focada para públicos do Sul e Sudeste, que acaba gerando afastamento das organizações locais e falta de identificação de empreendedores(as) com o ecossistema de soluções para desafios sociais e ambientais no Brasil.

Em conversa com representantes das mais de 60 organizações, foi clara a percepção comum do avanço do ecossistema e interesse crescente pela Amazônia, tanto pelo aumento do número de investidores, quanto pela diversificação dos modelos de negócio dos dinamizadores e seus tipos de suporte.

Anteriormente, os dinamizadores se identificavam por outros nomes e se limitavam a algumas poucas organizações não-governamentais, universidades, associações e cooperativas, dedicadas principalmente à conservação das florestas e a apoios ao trabalho de povos indígenas e comunidades tradicionais. Hoje, há um crescente número de organizações que cumprem esse papel e as oportunidades para apoiar negócios de impacto na Amazônia têm se multiplicado e se diversificado, contemplando editais, chamadas e aportes de capital público, privado e filantrópico.

Apesar disso, a capacidade do ecossistema de impacto ainda é vista como insuficiente para o tamanho da Amazônia e dos seus desafios. Um dos descompassos relevantes encontrados foi de que, do lado de quem recebe recursos (ou quer receber), há falta de conhecimento técnico e, do lado de quem aporta capital, há distanciamento da realidade amazônica e necessidade de alteração na forma com que se olha para risco, com mais capital paciente ou combinações inovadoras de unir fontes de capital com e sem expectativa de retorno, os chamados fundos de blended-finance. Neste sentido, há que se ajustar ambos os lados; oferecer conhecimento técnico para que mais projetos sejam bem estruturados e estimular formas inovadoras de aportar capital.

O mapeamento ‘Caminhos para a Amazônia: Iniciativas de apoio a organizações de impacto’ pode ser acessado por meio deste link.

*Com informações do site Um Só Planeta

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