Pesquisadores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), estão desenvolvendo um veículo inédito no país. O chamado Barco Voador é um tipo de aeronave que irá decolar e pousar sobre rios. A princípio, o protótipo será utilizado no transporte de pessoas e cargas na região amazônica.
O Veículo de Efeito Solo, como é chamado tecnicamente, irá sobrevoar a cinco metros do nível da água, o que o tornará 40% mais econômico e eficiente se comparado a uma aeronave tradicional. Isso acontece devido ao efeito solo, fenômeno que, basicamente, reduz a força que é gerada ao movimento de um avião. Esse tipo de atrito torna-se muito maior quando uma aeronave sobrevoa a uma altitude acima dos cinco metros.
Inicialmente, o barco voador será movido a combustão com a utilização de gasolina, já que a região amazônica, onde o veículo irá operar, carece de estações de abastecimento de aeronaves, como explica Lucas Guimarães, de 28 anos, co-fundador da AeroRiver, startup responsável pelo projeto.
“Nesse primeiro momento, como é uma solução nova, a gente quer que seja implementada da melhor forma possível. A região amazônica é predominante na utilização de postos de combustíveis flutuantes. Então, vamos aproveitar esses postos para fazer o abastecimento do veículo, já que não tem [em grande escala] pontos de abastecimento de aeronaves”, contou.
O veículo terá capacidade para transportar até 10 pessoas ou uma tonelada de carga. A velocidade máxima chegará a 150 km/hora, o que tornará as viagens sobre os rios ainda mais rápidas.
Em uma viagem com distância aproximada de São Paulo ao Rio de Janeiro, por exemplo, o custo médio de combustível por pessoa será em torno R$ 25,14, quando, atualmente, o transporte por lancha na região amazônica nessa mesma distância é realizado a R$ 28,57 dependendo da localidade.
Hoje, o protótipo de sub escala está apenas um sexto do tamanho original do veículo. Para se ter ideia, a envergadura total do barco voador é de 18 metros, já o protótipo tem apenas três. Ao todo, 11 pessoas participam da execução do projeto e a expectativa do grupo, composto por doutorandos e mestrandos, é de que o veículo fique pronto no final de 2024.
Solução para amazonenses
Segundo Lucas Guimarães, a ideia de desenvolver o barco voador surgiu em conjunto com outros três amigos que, assim como ele, são da região do Amazonas e conhecem bem a deficiência no transporte local.
“A região amazônica tem um problema logístico como um todo, sendo deficitária em termos logísticos. O transporte é feito majoritariamente por barcos e a cadeia logística acaba ficando comprometida por se tratar de um transporte lento. Isso impacta diretamente na economia no geral e os negócios locais não conseguem se desenvolver”, explica.
O caminho mais óbvio, de acordo com Guimarães, seria apostar em aviões. Entretanto, como a região é formada por grandes rios, com cidades distantes uma das outras e aeroportos precários, esse tipo de transporte tornaria o projeto caro e pouco resolutivo.
“Estamos utilizando o barco voador para resolver o problema logístico da água. Ele decola e pousa na água, logo não precisa de aeroporto, contando apenas com os rios”, completa.
Novos mercados
Com investimentos iniciais que superam R$ 1,5 milhão, a expectativa dos idealizadores é tornar o veículo elétrico a partir de 2030. Além disso, o grupo de pesquisadores planeja oferecer o transporte como meio de locomoção para petroleiros que precisam ir às plataformas no meio do mar.
Os pesquisadores defendem que o veículo será muito mais seguro do que o transporte por helicópteros, já que contará com sensores que indicarão possíveis objetos em seu entorno.
A equipe está ainda desenvolvendo junto com a Marinha uma certificação especial para pilotos terem licença legal a fim de utilizarem a aeronave.
*Com informações do site G1