Conforto, economia e flexibilidade: adeptos do ‘home office’ estão certos das vantagens que essa modalidade de trabalho proporciona. Desde a pandemia, o formato home office cresceu entre as empresas brasileiras. Segundo uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em 2021, 57,5% das empresas disseram ter adotado o home office parcialmente ou totalmente. Em 2022, embora esse índice tenha caído para 32,7%, muitas empresas dos setores de indústria e serviços continuaram com o trabalho remoto.
E se as empresas decidem manter o home office, os funcionários também precisam se adequar ao modelo de trabalho. O cientista de dados Thailsson Clementino de Andrade, de 22 anos, que trabalha em uma startup de crédito em Manaus, montou um escritório dentro do próprio quarto em 2020, por causa da pandemia. Mesmo após o fim do período pandêmico, a empresa onde o cientista trabalha seguiu as atividades de forma híbrida.
“Tive que adaptar meu quarto com uma mesa boa, um cadeira boa, para ficar minimamente confortável. Geralmente, eu acordo e vou para frente do computador. As pausas são para o almoço, lanches e água. Depois de muito tempo não sendo saudável, engordei uns 10kg por não fazer exercícios. Foi necessário que eu tivesse que começar a fazer exercícios. Estou há dois meses na academia”, disse Thailsson.
Thailsson conta que a maior vantagem do home office é não enfrentar o transporte público lotado e que trabalho em casa é parecido com trabalho no escritório da empresa, já que, nos dois casos, ele teria que passar o dia inteiro sentado. Por isso, acredita que, seja trabalhando presencialmente, seja remotamente, precisaria cuidar da qualidade de vida.
“Não acho que, necessariamente, pelo home office, mas porque eu passo muito tempo sentado, e ir presencialmente não mudaria esse fato. Ainda assim, passaria muito tempo sentado. As pessoas podem ser pessoas saudáveis mesmo trabalhando, utilizando posturas corretas, pausas para caminhadas entre outros”, disse.
Home office a longo prazo
Recentemente, a empresa australiana Furniture At Work fez uma projeção de como ficaria uma pessoa que chegasse aos 70 anos de idade trabalhando em home office. O resultado foi uma mulher, apelidada de ‘Anna’, corcunda, com as mãos curvadas e olhos vermelhos. A projeção fez um alerta aos adeptos dessa modalidade.
Para Leandro Escobar, especialista em sistemas cognitivos do INDT (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico em Manaus), essas imagens produzidas com inteligência artificial consideram critérios estabelecidos pelas características descritas para a projeção.
“Chamamos esses comandos de prompts . Então, a IA [Inteligência Artificial] vai ‘moldando’ a imagem de acordo com as solicitações que fazemos. O pesquisador deve ter utilizado imagens de pessoas com 70 anos como exemplos. Com isso, a IA aprendeu quais são os padrões das imagens. A partir daí, somam-se padrões de outros elementos, como postura, cabelos, diferentes formatos de olhos e cores de pele”, disse.
“Se considerarmos que os ambientes são semelhantes, a pessoa fica sentada por horas, em frente a telas, com níveis de estresse e sucesso parecidos, me parece razoável acreditar que esse projeção se aplicaria, talvez com pequenas alterações, inclusive, quando eu li o texto relativo à projeção, eu imediatamente lembrei do pessoal que trabalha em escritórios”, completou.
Para o ortopedista Diego Cabrejos, a projeção é hipotética e se baseia em tendências gerais, não em estudos científicos, os quais a medicina considera.
“A verdade é que a saúde e a aparência de uma pessoa aos 70 anos dependerão de muitos fatores, incluindo atividade física, genética, estilo de vida, cuidados de saúde, etc. Embora seja verdade que uma vida sedentária possa levar a problemas de saúde, não podemos dizer com certeza como uma pessoa em particular vai parecer ou se sentir aos 70 anos [assim] com base apenas em seu ambiente de trabalho”, disse Diego.
Como manter-se saudável em home office?
O ortopedista Nilton Orlando afirma que é possível trabalhar em home office por muito tempo, desde que o trabalhador mantenha hábitos que contribuam para a qualidade de vida.
“Se a pessoa trabalhar por metas em vez de horário, a jornada pode ser manejada e o indivíduo consegue adicionar na própria rotina os exercícios e atitudes que evitam o estresse psicológico. Acredito que quem pratica esportes regularmente e se alimenta de maneira apropriada sem grandes esforços consegue manter a forma e manutenção da sua forma física”, explicou.
Especialistas defendem que o corpo humano não foi feito para ficar na mesma posição por muito tempo. Por isso, veja algumas dicas para ter melhor qualidade de vida trabalhando remotamente:
• Fazer pausas frequentes e se movimentar entre intervalos de 30 e 40 minutos. Caminhar e se alongar;
• Manter a tela do computador ao nível dos olhos para evitar forçar o pescoço;
• Usar uma cadeira confortável que ofereça bom suporte para as costas;
• Hidratar-se e manter uma dieta equilibrada;
• Praticar atividade física regular.
“Não dá para trabalhar na cama”
A analista de SEO Daina Solart, de 27 anos, mora em Manaus e presta serviços para uma startup de tecnologia para RH (Recursos Humanos) de Curitiba (PR). O contrato de trabalho em home office é no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e com carga horária de oito horas por dia.
Segundo Daina, a empresa tem organização mensal e planejamento a ser seguido. A analista também montou um escritório em casa para desenvolver as atividades, e diz que tenta manter uma rotina saudável, e que não dá para trabalhar de qualquer jeito, isto é, tem que ter um espaço apropriado para o exercício das funções.
“Consigo fazer meu almoço todos os dias. Consigo acordar mais tarde e quando ‘saio’ do trabalho ainda é dia. Consigo aproveitar para fazer algumas coisas, quando necessário. Sobre pausas, faço, sim, para dar uma esticada, ir olhar a rua e fazer um café. Com essa rotina, eu consigo ter uma vida mais ativa, faço musculação três vezes na semana e natação outras três vezes. Não dá para trabalhar da cama. Até dá, mas é bem desconfortável para mim”, contou Daina.
Questionada sobre voltar a trabalhar de forma presencial, Daina diz que isso não está nos planos. Ela conta que se sente mais confortável em casa e que se estressava muito mais quando trabalhava presencialmente.
“Com o que o home office me oferece, eu sinto que eu como melhor, me cuido melhor e faço atividades que eu não tinha tempo antes, então não, não acho que vou envelhecer mais rápido. O cabelo eu lavo, às vezes, no meio do dia, meu skincare está melhor que nunca”, disse.
*Com informações do site Amazonas Atual
