Da docência para o desafio empresarial de transformar recursos da Amazônia em chocolates orgânicos, sem conservantes, livres de glúten e veganos. Jorge Neves, 54, nasceu na cidade de Coimbra, em Portugal, formado pelo Centro de Formação Profissional do Setor Alimentar (CFPSA), em Tecnologia de Alimento. Sócio fundador da Warabu Chocolates há quatro anos, o empresário recebe no próximo dia 19 o título de Microindustrial do Ano, em solenidade promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) no Clube do Trabalhador.
A empresa Warabu Chocolates tem o nome derivado da linguagem indígena tupi-guarani, resultado da junção de duas palavras: Wara, que significa “origem de algo” ou “algo que vem da origem” e Bu, que significa “da terra” ou “algo que é daqui”. A ideia nasceu no final de 2018, ainda na fase dos testes laboratoriais para descobrir o comportamento do cacau de várias regiões do Brasil. Tudo em busca da melhor matéria-prima para o preparo de chocolates Bean to Bar, caracterizado pelo processo a partir da amêndoa integral do cacau até a barra de chocolate, sem segmentação de processos nem aditivos artificiais de qualquer sorte.
No período de controle de qualidade de fluxo, em 2019, Jorge conheceu a sua futura sócia, Linda Gabay, que na época ingressou na empresa como estagiária do curso de Farmácia da Universidade Federal do Amazonas. As vendas na empresa iniciaram-se apenas no ano seguinte, pouco antes do início da pandemia, o que afetou diretamente o seu crescimento, porém, como afirma Neves, “é necessário gostar muito de uma coisa para conseguir levá-la em frente”, então, por sua paixão pelo sucesso dos produtos Warabu e pelo próprio chocolate, o empresário permaneceu motivado a não desistir, apesar das adversidades financeiras do período.
Com o objetivo de elevar a marca ao nível de chocolate premium, os dois primeiros sócios, Jorge Neves e Linda Gabay, abriram em 2021 uma nova sociedade com os também sócios proprietários da Aceleradora Axcell, os empresários Átila Denys, Renato Bonadiman e Matheus Faria. A parceria nasceu após a constatação de que possuíam sonhos compartilhados. “A Axcell entrou com capital, mas no nosso caso eles também deram apoio em todos os níveis, como o administrativo, marketing e comercial. Então nós ganhamos um suporte estratégico”, explica Neves, ressaltando que um dos maiores investimentos, desde a parceria, foi o uso de tecnologia de máquinas italianas, que conseguiram a qualidade do chocolate.
O uso de cacau nativo e selvagem, nunca antes cultivado, de espécie nativa situada na bacia Amazônica, é um dos maiores diferenciais da Warabu Chocolates, que usa em seu processo produtivo o cacau coletado por agricultores familiares de quatro comunidades do estado do Pará: Tauaré, Angapijó, Costa da Santana e Tatuoca, além da Cooperativa Cepotx – Cooperativa Central de Produção Orgânica da Transamazônica e Xingu.
Os diversos outros insumos utilizados para contribuir com nota de sabor aos chocolates são o açaí e a manga, vindos do município de Urucará (AM); o puxuri – noz-moscada de origem amazônica, vinda de Borba (AM); o cumaru vindo de Borba (AM) e de uma comunidade indígena chamada Kayapó, na cidade Tucumã (PA), que também fornece as castanhas utilizadas nos produtos. Essa é uma parceria que surgiu graças a organização sem fins lucrativos chamada “Origens Brasil”, que investe, sobretudo, em comunidades indígenas e com quem a empresa possui um contrato anual.
No total a Warabu oferece ao público uma linha com chocolates finos de 40% a 99% de teor de cacau em nove variações de sabores, já com previsão de acréscimo de mais três em breve. Os chocolates já estão em 34 pontos de venda em Manaus e São Paulo, capital. Cerca de cinco mil tabletes estão sendo produzidos mensalmente. Porém, segundo Jorge Neves, uma das maiores projeções da empresa é alcançar cerca de 50% do faturamento com as exportações, ainda este ano, graças às diversas certificações conquistadas, dentre elas a Certificação orgânica para Brasil (Orgânicos do Brasil), Certificação orgânica para Estados Unidos (NOP USDA), Certificação orgânica para União Europeia (BIO) e a Certificação Vegana Internacional (Vegan).
A Warabu está localizada no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), incubadora que tem a FIEAM como mantenedora, com o objetivo de estimular a criação e o desenvolvimento de empresas inovadoras, de base tecnológica, com ênfase nos setores de biotecnologia, tecnologia da informação e eletrônica, mediante ações que contribuam para incentivar o empreendedor e o desenvolvimento socioeconômico do Estado. A Warabu Chocolates possui seis colaboradores e três estagiários dos cursos de farmácia e engenharia de alimentos, em um espaço de 150 m² e com previsão de saída do local em 2026.
O homenageado
O Microindustrial do ano de 2023, Jorge Neves, 54 anos, já foi contemplado com o mesmo prêmio em 2015, quando na época era proprietário da “Sabor de Tradição”, empresa de doces portugueses responsável por abastecer redes de supermercados e restaurantes em Manaus e São Paulo, além de realizar algumas exportações para Inglaterra. É casado com Rosevane e pai de Rafaela Neves, nove anos.
A antiga empresa foi fundada, a princípio, como uma fonte de renda extra, visto que a na época o proprietário ainda atuava como professor do SENAI de São Paulo, viajando por diversos estados do Brasil, como Alagoas, Ceará, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal, onde dava aulas, principalmente, sobre panificação. O empreendedorismo iniciou-se quando passou a aproveitar seus horários livres para comercializar seus doces portugueses na feira realizada aos domingos, na avenida Eduardo Ribeiro, no centro de Manaus.
Com a aumento da demanda, Jorge resolveu investir na industrialização de alguns de seus processos, abrindo sua antiga empresa também no Cide, em 2013, além de reabrir a famosa Cafeteria do Largo. A “Sabor de Tradição” foi, porém, vendida por Jorge, juntamente com a cafetaria há quatro anos, tendo em vista a ideia do empreendimento com chocolates amazônicos que viria a se tornar a atual empresa Warabu Chocolates.