A conclusão é de pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que publicaram o estudo “Mercury bioaccumulation, genotoxic and biochemical biomarkers reveal the health status of yellow-spotted Amazon River turtles (Podocnemis unifilis) in an environmental protection area in the Amazon”, na sexta-feira, 23, na revista “Acta Amazonica”.
Na prática, foram estudados 35 espécimes de P. unifilis, sendo 12 fêmeas e 23 machos, e a amostragem ocorreu em três locais no RDS-PP: Lago Itapuru-Mirim, Paraná do Itapuru e Lago Martinho. Para o trabalho, os pesquisadores analisaram lipoperoxidação, carbonilação de proteínas, a ocorrência de micronúcleos e anormalidades nucleares eritrocíticas. Os estudiosos também quantificaram metalotioneínas e avaliaram a bioacumulação de mercúrio.
De acordo com a pesquisadora Fabíola Domingos Moreira, uma das autoras do estudo, os pesquisadores geraram dados pioneiros sobre biomarcadores em quelônios de água doce amazônicos silvestres.
“Nem sempre só saber o nível de contaminante em um organismo nos dá uma noção se isto está sendo prejudicial para aquele animal. Então, com esses parâmetros de saúde que nós avaliamos podemos ter uma ideia se esses animais estão saudáveis e, felizmente, foi isso que nós observamos”, comentou ela à Agência Bori.
Baixos níveis de mercúrio
Ao longo do artigo, os autores comparam o estudo com outras pesquisas referentes à saúde de répteis como Chelonia mydas, por exemplo, que sob a influência de metais não essenciais do Oceano Atlântico continha níveis de 2,48, mais ou menos, 0,25 nanomol mg de proteína-1.
“Até onde sabemos, não há estudos publicados sobre PCA (Carbonilação de proteínas) relacionados a metais no músculo tartaruga, mas a comparação com os estudos mencionados indica que nossos resultados para PCA (1,63, mais ou menos, 0,40 nanomol mg de proteína-1) representam um baixo nível de dano oxidativo”, compararam os estudiosos brasileiros em publicação.
Em suma, os resultados indicaram que “não há evidências de danos oxidativos nos componentes lipídicos que possam comprometer a saúde de P. unifilis no PP-SDR”. A conclusão trouxe esperanças para os estudiosos que destacam que os resultados mostram a importância das áreas protegidas para a conservação de populações saudáveis de quelônios, “concomitantemente assegurando a saúde das populações humanas que os utilizam como fonte alimentar”.
Para os pesquisadores, os resultados constituem um conjunto de dados de referência para bioacumulação de mercúrio e respostas de biomarcadores que podem ser úteis para futuras comparações com outros quelônios de água doce.
“A gente espera que não ocorra, mas se houver alguma situação pontual de poluição em outra região da Amazônia, com essa mesma espécie, ou esse mesmo grupo, temos dados com indivíduos saudáveis que podemos usar para comparação”, afirmou Domingos Moreira.
Ela finaliza que uma pesquisa semelhante deve ser realizada na Usina Hidrelétrica de Balbina, área em que o rio foi represado para a geração de energia elétrica. “Estudos em hidrelétricas ao redor do mundo todo mostram, por exemplo, que as concentrações de mercúrio tendem a aumentar em regiões de reservatórios, então, nós vamos verificar a saúde dos animais e se existe alguma correlação com as concentrações de mercúrio que vamos observar na região”, concluiu ela.
Vale relembrar que o mercúrio é uma preocupação atual da saúde humana e animal na região amazônica. Na Amazônia, a atividade ilegal dos garimpos é a principal fonte antropogênica de mercúrio. No entanto, existem fontes naturais, em solos, os quais são incorporados aos sistemas aquáticos. Para conferir o estudo completo, o interessado pode acessá-lo por meio deste link
*Com informações do site UOL/Cultura/Agência Cenarium