Desmatamento na Amazônia coloca JBS na mira do Senado nos EUA

(Foto: Reprodução)
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Durante audiência pública nesta quinta-feira (22) do Comitê de Finanças do Senado dos Estados Unidos, sobre cadeias produtivas de gado e desmatamento da Amazônia, a empresa brasileira foi denunciada por práticas como suborno, desmatamento ilegal e exploração de trabalhadores.

A JBS foi representada em Washington pelo diretor global de Sustentabilidade, Jason Weller. Os depoimentos de congressistas e pesquisadores colocam em risco até mesmo a reputação de outros players da cadeia brasileira de proteína animal, mostrando que os escândalos associados à JBS no país podem comprometer o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos.

Rick Jacobsen, gerente de Política de Commodities da Agência de Investigação Ambiental dos EUA, contou em seu depoimento que a JBS controla matadouros ilegais dentro da Reserva Extrativista Jaci-Paraná, uma unidade de conservação em Rondônia, segundo informa a Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder. Alguns desses matadouros, segundo Jacobsen, exportam carne bovina para os Estados Unidos.

“Nossas descobertas, e as de vários outros grupos da sociedade civil e meios de comunicação, conectam os pontos entre o desmatamento ilegal sistêmico ocorrido em Rondônia e em toda a região amazônica e ilustram o alto risco associado à carne bovina e ao couro do Brasil”, disse o Jacobsen. “Os EUA precisam estabelecer requisitos mais rígidos de rastreabilidade e transparência para produtos de alto risco que entram em nosso mercado”, propôs.

Leo McDonnell, proprietário da produtora de rações McDonnell Angus, denunciou que quase um terço do gado adquiridos pela JBS no estado do Pará tem origem em fazendas com irregularidades como desmatamento ilegal e trabalho análogo à escravidão. “As autoridades brasileiras já resgataram 523 vítimas de trabalho forçado este ano”, disse McDonnell ao mostrar imagens das camas dos funcionários colocadas sobre galões de lubrificantes na fazenda Rodoserv IV, em Naviraí (MS), fornecedora de gado para os frigoríficos da JBS.

McDonnell relembrou o relatório de 2017 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que na época realizou uma auditoria no mercado brasileiro de carne bovina. No total, mais de 1,9 milhão de quilos de carne bovina brasileira foi rejeitado devido a preocupações de saúde pública, condições sanitárias deficitárias e problemas de saúde animal. “O Brasil falhou em várias categorias em relação ao seu comércio com os EUA, incluindo supervisão, autoridade estatutária, segurança alimentar, saneamento, análise de perigos e pontos críticos de controle, resíduos químicos e programas de testes”, destacou o representante da McDonnell Angus.

Em seu depoimento, McDonnell denunciou ainda práticas predatórias de mercado da JBS, lembrando que os proprietários Joesely e Wesely Batista chegaram a admitir gastos de aproximadamente US$ 150 milhões para subornar mais de 1.8 mil funcionários do governo brasileiro. O objetivo era garantir US$ 1,3 bilhão em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de pensões. “Por meio dessas atividades fraudulentas, é relatado que a JBS garantiu fundos suficientes para começar a comprar 40 empresas rivais em quatro países”, disse McDonnell.

Escândalos nos EUA

Pesquisadores estimam de forma conservadora que a pegada total de desmatamento da JBS na Amazônia desde 2008 pode chegar a 200 mil hectares em sua cadeia de fornecimento direta e 1,5 milhão de hectares em sua cadeia de fornecimento indireta. Essas estimativas ajudam a tornar a JBS a empresa com classificação mais baixa no ranking de desmatamento associado à pecuária da organização ambiental Mighty Earth, marcando apenas um ponto em 100 possíveis.

No início do ano, a própria Mighty Earth entrou com uma representação na SEC (Securities and Exchange Commission), a “CVM” americana, em que pede a abertura de uma investigação sobre os mais de US$ 3 bilhões em bonds que a JBS emitiu nos Estados Unidos. Os títulos são vinculados a metas de sustentabilidade da empresa e, segundo o documento entregue à SEC, correspondem a emissões “enganosas e fraudulentas”.

Ainda este ano, a Packers Sanitation Services, empresa responsável pela limpeza de fábricas nos EUA da JBS foi multada em fevereiro em US$ 1,5 milhão pelo uso de mão de obra infantil imigrante no País. A investigação, conduzida desde agosto do ano passado, constatou a presença de ao menos 100 crianças entre 13 e 17 anos de idade em ocupações perigosas. Algumas delas foram encontradas com queimaduras nas mãos devido à exposição a produtos químicos de limpeza.

Os seguidos escândalos envolvendo a holding dos irmãos Batista vêm levando congressistas norte-americanos a solicitar ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) um processo de suspensão contra empresas ligadas à JBS. Os pedidos começaram ainda em 2020, quando a JBS pagou uma multa de US$ 256,5 milhões por violar a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA) dos Estados Unidos. Segundo promotores, as propinas pagas por executivos da holding brasileira para autoridades governamentais de alto escalão superaram US$ 150 milhões.

*Com informações do site Diário do Poder
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