Com papers aprovados em congresso internacional, estudantes de Matemática fazem vaquinha online para custear a viagem

(Foto: Divulgação)
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Três jovens estudantes entusiastas pelo ensino da Matemática buscam recursos financeiros para custear as suas viagens para o congresso internacional ‘womENcourage’, que será realizado na cidade de Trondheim, na Noruega, na penúltima semana de setembro. O trio, composto por Ana Júlia Siqueira, Karolline Vitória e Beatriz Albuquerque, lançou nas redes sociais uma vaquinha on-line para custear o deslocamento e demais gastos no país nórdico, estimados em R$ 30 mil.

Em entrevista à Coluna, a mestranda em Informática pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Beatriz Albuquerque recorda que a mensagem de aprovação dos papers para exposição no ‘womENcourage’ ocorreu no início de junho, e desde então, elas realizam ações para arrecadar dinheiro em prol da viagem para a Noruega.

“Estamos fazendo uma rifa e feijoadas. Com o dinheiro que arrecadamos até agora da rifa, conseguimos pagar nossos registros no evento. O valor individual é de 110 euros, o que ficou mais ou menos em R$ 580 para cada uma. Esperamos conseguir arrecadar mais para pagamento de estadias e passagens”, disse Albuquerque.

Após a validação das inscrições no evento e somando o valor arrecadado com a rifa e a feijoada, o trio dispõe em caixa de R$ 4 mil. Correndo contra o tempo, a última das ações do trio para conseguir os recursos da viagem foi a criação de uma vaquinha on-line em um famoso site de suporte a causas sociais e educacionais.

“Uma passagem saindo de Manaus para a Noruega é bastante cara. Em média, custa R$ 7 mil. Além das passagens, precisamos do dinheiro para acomodação. A feijoada está sendo realizada para, pelo menos, conseguirmos um dinheiro para estadias. E estamos verificando como poderíamos resolver a situação das passagens. Fizemos um levantamento e ao todo precisaríamos de mais ou menos R$ 27 mil. O valor seria usado para passagens, estadias e alimentação”.

As pesquisadoras relatam que, desde a aprovação dos papers, buscaram o apoio de personagens do meio político e o suporte de instituições privadas, mas sem sucesso. “Mandamos e-mails também para companhias áreas visando realizar algum tipo de parceria em troca de passagens mais acessíveis, no entanto também ainda não obtivemos respostas”, comenta Beatriz.

Participação feminina na Ciência

Ana Júlia, Karolline e Beatriz integram o ‘Caboclas Kirimbaua Auaeté’, projeto de incentivo à participação feminina da pesquisa científica nas ciências exatas e na tecnologia, criado em 2018. Atualmente, a equipe da iniciativa é composta por 36 voluntários, entre alunos e professores.

No percorrer das ações do grupo, feitas inicialmente em cinco escolas públicas da rede estadual, alunas bolsistas e voluntárias participavam de atividades voltada em áreas da matemática, contando sempre com o suporte de professores no desenvolvimento de seus PIBICs e na apresentação dos relatórios. De acordo com a mestranda, os resultados obtidos com a presença do Caboclas Kirimbaua Auaeté no ambiente escolar superaram as expectativas.

“Apesar de o público-alvo do Caboclas ser, com mais foco, tanto alunos do ensino básico quanto do ensino superior, tendo a dizer que abrangemos muito mais do que apenas os estudantes. Nós recebemos feedbacks de pessoas dos mais diferentes contextos. Acredito que isso se deva ao fato de não somente realizarmos atividades de pesquisa voltadas para a matemática, mas também produzirmos rodas de conversa levando psicólogos para falarem sobre temas como saúde mental, rodas de conversas para debatermos sobre empoderamento feminino ou mesmo assuntos como assédio. Falamos de temas como empreendedorismo, violência doméstica e sobre os efeitos gerais da quarentena”, explica.

Os dois papers aprovados no ‘womENcourage’ abordam as atividades realizadas por meio do Caboclas Kirimbaua Auaeté no âmbito do Ensino Básico e no Ensino Superior. Nos documentos, escritos pelas alunas e por professores do projeto, há o relato amplo das atividades feitas e de seus impactos positivos ao longo de cinco anos.

Assuntos como biomatemática, otimização e geometria são algumas das áreas de abordagem dos estudos, isolados ou interligados, das pesquisadoras, como descreve Beatriz.

“Em um dos subprojetos, as alunas do ensino básico estudaram problemas de biomatemática sob o ponto de vista da otimização, relacionados à geometria da Vesica Pisces, bem como identificar a sua presença na biodiversidade Amazônica através de alguns exemplares da sua flora. De modo simples, a Vesica Pisces é formada a partir do entrelaçamento de dois círculos com o mesmo raio, de forma que o centro de cada um esteja sobre o perímetro do outro. Ela é uma forma que remete o feminino e constitui a base da Geometria Sagrada. O logo do projeto é baseado justamente nela, com a Índia na sua intercessão simbolizando um dos nossos focos: também podermos ter mais mulheres indígenas cursando áreas de exatas!”, descreve.

A mestranda relata ainda que são recorrentes os convites para apresentação dos estudos e resultados obtidos pelas alunas do grupo, inclusive nacionalmente.

“Em 2019 participamos do Encontro Internacional de Mulheres na Matemática, que foi realizado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) do Rio de Janeiro, onde nossa ex-coordenadora geral, professora Juliana Miranda, apresentou sobre o projeto Caboclas”.

Próximos passos

De acordo com Beatriz Albuquerque, após a conclusão do mestrado o próximo passo é seguir com o doutorado em Informática. Pesquisadora em Machine Learning com foco em Inteligência Artificial, uma de suas metas é atuar como professora.

“Pretendo me especializar cada vez mais e continuar realizando pesquisas dentro desse contexto. Tenho vontade de no futuro lecionar e transmitir toda minha bagagem de conhecimentos e aprendizados para outras pessoas. Pretendo continuar no projeto Caboclas contribuindo nas atividades e retribuindo tudo que a universidade e o projeto me proporcionaram”, afirma.

Para a mestranda, ter a oportunidade de representar a região Norte e o Brasil em um evento internacional como o ‘womENcourage’ pode ser um incentivo para que outras estudantes se inspirem em seguir na ciência, ampliando a participação feminina nos ramos da pesquisa no país.

“Pude conviver mais de perto com as professoras do departamento de Matemática e outras meninas que estavam trilhando o mesmo caminho que eu, foi quando aprendi sobre a importância do empoderamento e de empoderar mulheres. Eu passei a enxergar como eram imensas as minhas possibilidades convivendo com a equipe do Caboclas e tendo as professoras por perto, por isso para mim ter mulheres nas quais possa me inspirar é realmente importante”, finaliza Beatriz.

Se você quiser ajudar nessa causa, acesse as redes sociais: Instagram e/ou contribua através deste link.

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