A tragédia do mercúrio na Amazônia

(Foto: Adem Albayrak)
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Os preocupantes níveis de mercúrio encontrados em amostras de peixes amazônicos, confirmados em pesquisa da Fiocruz/UFOPA, trazem à memória os terríveis relatos de Minamata, da década de 1950.

Nessa pequena cidade da costa japonesa foram pela primeira vez identificadas as enfermidades neurológicas causadas pelo mercúrio no organismo humano. Muitas pessoas apresentavam distúrbios que afetavam a visão, o tato e a audição, chegando a causar paralisia e morte. Diversos fetos estavam contaminados, e nasceram com problemas irreversíveis, físicos e neurológicos. Batizado de “Mal de Minamata”, foi um alerta para todo o planeta do alto risco embutido na poluição das águas.

O cientista Akagi Hirokatsu (1942/2020), que trabalhou no Instituto Nacional do Mal de Minamata, descobriu na década de 1980 um método de medição do organomercúrio que é utilizado hoje em todo o mundo, inclusive nesse estudo da Fiocruz.

Com vários estados amazônicos apresentando índices de contaminação muito acima do permitido, o desastre é iminente. Utilizado principalmente na mineração, legal ou ilegal, as quantidades mortíferas de mercúrio despejadas nas águas da Bacia Amazônica são uma tétrica confirmação de que a humanidade não aprende com os próprios erros, e muita dor e sofrimento ainda advirão desse crime ambiental.

Roraima, estado campeão de devastação e mineração ilegal, é também o recordista de amostras contaminadas: 40% das coletadas em mercados e feiras livres estavam acima do limite aceitável. Por um fenômeno cumulativo, o mercúrio aumenta de acordo com a cadeia alimentar, ou seja, os carnívoros do topo, que se alimentam de peixes menores, acumulam índices maiores do elemento mortal. Traduzindo: pirarucu, tucunaré, pintado, filhote, ou seja, alguns dos mais nobres peixes amazônicos.

É óbvio que não são apenas populações ribeirinhas “invisíveis” que comem peixes com mercúrio. Eles estão também no cardápio dos principais restaurantes e hotéis da Amazônia dos “ricos”, em Manaus, Belém, Santarém e outras cidades da região. Muitos já são encontrados em supermercados chiques do Sul do país.

O premiado cineasta Jorge Bodanski realizou o filme Amazônia, a nova Minamata? (2022), enfocando o povo Munduruku. Descreve a luta da líder Alessandra Korap, que levou médicos e pesquisadores à região para pesquisar o mal que ameaça sua gente. Também dá voz ao neurologista Erick Jennings, cientista que investiga porque muitas crianças amazônicas têm problemas neurológicos.

Nas palavras de Jorge Bodanski, “este é um dos filmes mais importantes e difíceis da minha vida. Não podemos deixar que a Amazônia se transforme numa nova Minamata”. O filme dialoga com o documentário Minamata: the Victims and heir World (1971), de Noriaki Tsuchimoto, que pode ser visto no Youtube em versão com legendas em inglês. O autor japonês produziu uma série de documentários sobre o desastre, e inspirou até produções americanas, como Minamata (2020), com Johnny Depp, de valor discutível. Para saber mais e melhor, fique com o original.

*Com informações do site A Terra é Redonda

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