A importância econômica do gelo na Amazônia

(Foto: Bruno Kelly / via Ascom Mamirauá)
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on pinterest
Pinterest

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. Com este que pareceria “o maior diamante do mundo”, inicia Cem Anos de Solidão, do colombiano Gabriel García Márquez. Neste dia, José Arcádio Buendía pagou para si e seus filhos terem a prodigiosa experiência de tocar no gelo. Para Buendía, aquele era um grande invento que no futuro próximo poderia ser facilmente fabricado em escala com um material tão cotidiano como a água. Mas não foi apenas na tropical Macondo que o gelo foi exaltado.

Em Fitzcarraldo, filme de 1982 do alemão Werner Herzog, o personagem Brian Fitzgerald possui uma fábrica de gelo em Iquitos, na Amazônia peruana. “Imagine quantas possibilidades o gelo possui” afirma o Fitzcarraldo. As crianças adoravam o gelo, mas para o estrangeiro, as pessoas não viam seu potencial – mas imaginava que no futuro este seria encontrado em qualquer navio e armazém.

Décadas se passaram desde o lançamento destas obras ficcionais, porém o gelo segue sendo uma realidade fantástica em meio à floresta Amazônica. Em meio ao calor tropical, o gelo possui uma importância que vai muito além de gelar a tão brasileira caipirinha.

No interior do Amazonas, o gelo também é o responsável pelo mantenimento do transporte de peixes para as cidades – uma importante atividade econômica em toda Amazônia. Toneladas de gelo são fabricadas diariamente em cidades e carregadas pelos rios para esta logística. Uma atividade repetitiva e diária, visto que o gelo rapidamente derrete no calor tropical amazônico. O gelo é, acima de tudo, uma peça central na economia pesqueira.

Fazer gelo na década de 2020 é algo muito simples e exige poucos ingredientes: basicamente água e energia. Ao redor do mundo as pessoas fabricam gelo, em geladeiras e refrigeradores comuns, sem sair de casa. As pedrinhas de água sólida são utilizadas para os mais diversos fins – inclusive gelar bebidas em dias quentes. Apesar deste potencial, o gelo ainda não é encontrado em qualquer barco ou armazém amazônico.

A Amazônia cobre cerca de metade da área do Brasil. Milhões de pessoas vivem dentro desta região. E parte destas em áreas rurais, a quilômetros de distância das grandes cidades. Em toda Amazônia a água é abundante durante todo o ano e certamente não é por falta de água que o gelo ainda é incomum nestas áreas. Mas a energia ainda é uma realidade limitada em muitas residências amazônicas.

Com distâncias amazônicas, a única fonte de energia em muitas comunidades ribeirinhas é a partir de geradores a diesel ou gasolina. Uma energia limitada a poucas horas por dia e com também limitada capacidade de força. Uma capacidade que limita a produção de gelo. Desta forma, o gelo precisa ser comprado em fábricas de gelo de cidades próximas e transportado de barco pelos rios.

Mais de cem anos talvez se passaram desde o encontro dos Buendía com o gelo em Macondo. Atualmente o gelo pode ser fabricado até com o auxílio de energia solar na Amazônia. Mas o encanto de tocar o gelo ainda é presente em muitas comunidades ribeirinhas. Do transporte do gigante Pirarucu até a oficial caipirinha no copo de um turista, o gelo segue como um importante personagem da Amazônia.

*Com informações do site Gizmodo

EnglishPortuguese
Open chat
Precisa de ajuda?