A Natura anunciou operação financeira que emitiu R$ 1,32 bilhão em títulos de dívida (debêntures), que servirão para capitalizar projetos da empresa ligados à bioeconomia. Os títulos verdes, como são apelidados papeis com esta finalidade, garantem a quem comprou um rendimento similar a uma renda fixa, com taxas atrativas. Foi a 13ª emissão da companhia, a primeira envolvendo metas relacionadas a bioativos da Amazônia.
Os principais compradores foram a International Finance Corporation (IFC) e o BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento voltado para o setor privado, que contribuíram com de R$ 300 milhões e R$ 200 milhões, respectivamente.
Na estrutura dos papéis negociados, a companhia tem liberdade no uso dos recursos, mas se compromete com metas específicas de sustentabilidade. Um dos principais compromissos é o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, que já estão presentes em linhas de produtos cosméticos e de higiene pessoal, como a Ekos.
Se não cumprir a meta até os prazos determinados, a Natura paga um adicional de 0,15% ao ano aos investidores na primeira verificação e 0,30% ao ano na segunda. O prazo dos títulos é de cinco anos, com vencimento em 15 de junho de 2029, informou o portal Reset.
“A Natura já desenvolveu 44 bioingredientes, e o modelo de negócio que vem sendo implementado na Amazônia há 25 anos tem contribuído para a conservação de 2,2 milhões de hectares de floresta, em parceria com mais de 10 mil famílias locais. A meta é expandir para 49 bioingredientes até 2027”, afirma comunicado.
Para Silvia Vilas Boas, vice-presidente de finanças e estratégia da companhia, a nova emissão é um avanço significativo para fortalecer a bioeconomia da Amazônia. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar globalmente este modelo de negócios que harmoniza geração de renda com conservação ambiental.”
Para a executiva, um dos grandes desafios é valorizar e expandir pequenas cadeias produtivas, uma característica amazônica. “Ampliar a bioeconomia é crucial, e para isso precisamos fortalecer todo o ecossistema envolvido. A emissão é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a alcançar esse objetivo.”
Como investidor âncora desta operação, a IFC, braço do setor privado do Grupo Banco Mundial, mobilizou recursos adicionais para apoiar investimentos na Amazônia. A meta é impulsionar a economia local e cadeias de fornecimento sustentáveis de sistemas agroflorestais, que a Natura já usa para obtenção de insumos como o óleo de palma.
O BID Invest entra como investidor de impacto, “promovendo mercados de capitais sustentáveis na região”, afirmou a nota divulgada pela Natura. A transação “contribuirá para a estratégia de sustentabilidade da Natura através de suas soluções baseadas na natureza para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, destaca a companhia.
“Estamos confiantes de que o investimento da IFC ajudará a reforçar a produção de bioingredientes da Natura, destacando importantes iniciativas de fornecimento sustentável e contribuindo para a conservação da biodiversidade. Este é um caminho importante para conciliar a proteção da Amazônia com o desenvolvimento econômico,” afirma Manuel Reyes-Retana, diretor regional da IFC para América do Sul.
“Esta emissão demonstra o potencial dos Sustainability-Linked Bonds para remodelar toda a indústria de mercado de dívida sustentável e gerar maior impacto,” afirmou Guillermo Foscarini, diretor corporativo da Divisão de Corporativos do BID Invest. “O setor privado é crucial para gerar mais impacto na região amazônica e o BID Invest está totalmente comprometido em apoiá-lo, fortalecendo instrumentos financeiros inovadores e atraindo mais capital para um crescimento sustentável e inclusivo. Até o momento, o BID Invest apoiou 41 emissões de títulos rotulados na região, totalizando US$ 3,6 bilhões [R$ 19,5 bilhões] arrecadados por nossos clientes.”
Fundada em 1969, a Natura é hoje uma multinacional com 3,5 milhões de consultoras na América Latina. Foi a primeira companhia de capital aberto a receber a certificação de empresa B no mundo, em dezembro de 2014. É também a primeira empresa brasileira a conquistar o selo “The Leaping Bunny”, concedido pela organização de proteção animal Cruelty Free International, em 2018, que atesta o compromisso da empresa com a não realização de testes em animais de seus produtos ou ingredientes.
Fonte: Um Só Planeta/Globo.