Potência do Juruá: Serra do Divisor recebeu mais de 1,6 mil visitantes em 3 anos e fomenta turismo no Acre

(Foto: Tácita Muniz/g1)
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Com uma área de 837.554,36 hectares, o Parque Nacional da Serra do Divisor, em Mâncio Lima, tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Atualmente, é considerado um dos maiores potenciais turísticos do Acre, reunindo turistas, pesquisadores e também foi local de grandes descobertas para a fauna e flora do país. Dados do Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor da unidade, mostram que em três anos foram 1.631 visitas à unidade. Os anos que aparecem com essa contabilização são 2018,2019 e 2021.

Segundo estudiosos, a Serra do Divisor é o 4º maior Parque Nacional do Brasil e ocupa cinco municípios acreanos, entre eles, Mâncio Lima (31,8%), Marechal Thaumaturgo (4,8%), Cruzeiro do Sul (23,1%), Rodrigues Alves (13,3%), Porto Walter (27%).

Tanta riqueza natural chama atenção de turistas, muitas vezes de outros países, que buscam uma imersão à natureza. Além disso, também é de grande contribuição para pesquisas. Anualmente, as três pousadas: Caminhos da Cachoeiras, Canindé e Miro encaminham ao ICMBio dados de visitação.

Pousada liderada por mulheres

A pousada Canindé é hoje administrada pela viúva do descobridor da primeira caverna do Acre. Em 2020, Edson Cavalcante, morador da unidade de conservação, divulgou que havia encontrado uma caverna há anos, mas não havia informado porque não sabia que era relevante. Logo depois, Edson, que era o morador mais antigo da unidade, morreu vítima de Covid. Hoje, a caverna leva o nome dele.

Hoje, Graça Lima, de 49 anos, é quem leva o empreendimento junto com as filhas. Ela disse que assumiu o desafio de apostar na pousada, porque há 32 anos mora na unidade e acredita no potencial da região.

“Essa área era do pai dele [Edson], nós viemos para cá, moramos no Pirapora e aí criaram o parque e não podia ficar ninguém, mandaram a gente descer e viemos para onde estamos hoje. Faz muito tempo, desde o tempo do Pirapora que nossa casa sempre era grande e sempre hospedava, mas nunca cobrava, deixavam resto de feira, roupa, o pagamento era assim, mas com o tempo, tivemos a ideia de fazer a pousada e cobrar, porque a gente trabalhava sem retorno, fizemos a pousada e há oito anos trabalho com turismo”, conta.

Apesar de ter relatos da década de 30 de exploração, o parque foi criado em 1989 e tem classificação de proteção integral e há alguns anos a própria comunidade tem sido qualificada para receber os turistas. Essa é a principal atividade que movimenta a economia na região.

Melhorias e memorial

Com o passar dos anos e cada vez a atenção voltada para o parque, as coisas foram avançando. Além da energia elétrica, através de geradores de energia e placas solares, as pousadas também contam com Wi-Fi há cerca de um ano – internet por satélite, que acaba sendo um incentivo a mais para que as pessoas queiram conhecer a unidade.

Mas, o contato com a natureza e a comunidade ainda continuam sendo o principal atrativo para quem procura esse tipo de viagem. Já dona Graça, mesmo com a dor da perda, foi tentando se ajustar e apostar na melhoria da pousada.

“Depois da morte do Edson, com seis meses, passei mal e fui ao médico, fiz exame e fui diagnosticada com câncer no colo do útero. Passei mais de um ano fora da pousada, além de perder meu marido, tive que fazer o tratamento e na pandemia ficamos sem receber ninguém. E muita gente dizia que isso aqui ia acabar, mas minhas filhas e eu decidimos que continuaríamos aqui. Não é fácil sem um homem, mas continuamos aqui, unidas”, conta.

Graça também lamenta que o marido não tenha sido enterrado no parque, local onde viveu todos os anos. Devido à pandemia, ele foi enterrado em Rio Branco, onde foi transferido ao ficar em estado grave devido à Covid. Ela diz que ficou feliz de a caverna ter levado o nome dele.

“É uma pena que ele tenha morrido assim que descobriu a caverna, mas achei muito legal ter o nome dele. Aqui na pousada, aumentamos o número de quartos, banheiros e fizemos os chalés, além do redário. Minha intenção um dia também é fazer um memorial do Edson aqui para que as pessoas conheçam a história dele”, revelou.

O nome da pousada faz referência à arara-canindé, também conhecida como arara-de-barriga-amarela.

Estrada que corta a Serra

Em 2019, o projeto de lei 6024 apresentado pela então deputada federal Mara Rocha (PSDB) quer modificar a categoria da unidade de conservação Parque Nacional da Serra do Divisor e alterar os limites da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex).

Com a aprovação do projeto, o parque passaria a ser classificado e denominado como Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Divisor. A medida tira a proteção integração da região.

“A classificação da unidade de conservação como parque nacional, do grupo de proteção integral, impede qualquer tipo de exploração econômica das riquezas ali presentes. Entendemos que isso vai de encontro aos interesses e necessidades do povo acreano. Reclassificar a unidade como área de proteção ambiental propiciará a junção de dois interesses importantes: a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento econômico da região”, justifica o PL.

O PL defende que a reclassificação da unidade de conservação vai ser importante para “alavancar” a construção do trecho da BR-364 que vai até o Peru.

Atualmente, o projeto tem como relator o deputado Airton Faleiro (PT-PA) e está sendo discutido em sessões na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais durante o mês de abril.

Graça, dona da pousada, diz que é quase unânime a rejeição da comunidade ao PL. Isso porque, segundo ela, uma estrada na unidade e a retirada da proteção integral do parque acarretaria em prejuízos irreversíveis.

“Eu sou contra, muito contra. Porque eu estava dizendo que a gente vive no paraíso, dorme com a porta aberta, janela aberta, sem preocupação de assalto, roubo e se chegar a acontecer essa estrada, a gente não vai viver em paz. Sei que há políticos dizendo que viver em meio à floresta está ligado à pobreza, mas não vejo essas pobrezas não. Nossa estrada aqui é de inverno a verão pelo rio”, pontua.

Da mesma forma pensa o guia Edmilson Cavalcante. Para ele, uma estrada na Serra do Divisor acabaria com o turismo, a biodiversidade, riqueza e encanto que a Serra do Divisor tem.

“Somos pobres, mas hoje qualquer menino aqui ganha dinheiro com turismo. Os barqueiros, guias, donos de pousada, todo mundo lucra com turista. A estrada traria alguns benefícios, mas muita coisa ruim e, colocando na balança, eu prefiro do jeito que está, sem essa estrada. Se o governo olhar com melhores olhos, investir mais no parque, que é muito rico em tudo, o turista vem”, destaca.

O guia diz ainda que o parque é um local onde pesquisas são desenvolvidas, com descobertas de espécies endêmicas da região e uma biodiversidade que precisa ser preservada. “Quem vem fazer pesquisa aqui sai com 90% de aproveitamento, de tudo, pode ser animal, planta, tudo. Tem que preservar.”

*Com informações do site G1

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